A História da nossa Ombaca ( Benguela) começou há uns milhões de anos antes de nós, quando os gelos dos pólos consumiram o oceano o suficiente para por a descoberto a costa, desde a antiga Sorefame do Lobito até aos montes da exploração de cal do rei do gesso e toda a baixa do ribeiro da Caota, até ao sopé do plateau da Chimalavera.
As chuvas que sucederam ao período de grande seca que prolongava o deserto do Namibe até à floresta do Congo Há cerca de 1.000.000 de anos, fizeram o rio Coporolo, o Caota, o Coringe, o Cavaco, e o Catumbela despejar toda a terra que depois nós conhecemos, conquistando ao mar ano após ano, uma superfície de alguns metros de lama humosa, aqui e acolá fazendo aparecer charcos que se enchiam com água que se misturava com as infiltrações do mar.
Por cima dos platôs ou “mesas” que nós admirávamos (sobretudo quando estalavam os relâmpagos) eram então percorridos por grupos de caçadores desde o cimo das Bimbas ( conhecido por possuir uma grande densidade de árvores com uma madeira do tipo balsa semelhante à árvore de sumaúma), no vale do Cavaco, até arribas da Baía Farta, passando pela Caotinha, até ao Cuio.
Os primeiros grupos humanos ( dos quais restaram apenas os utensílios e os lugares onde fizeram esporádicos acampamentos) Maravilhavam-se, os mais afortunados, com as carnes dos magestososElephas Primigénios e o Deinotherium antepassados dos elefantes e demais alimárias, como o antepassado dos ondgiris ( ou olongos - Strepsiceros strepsiceros - kudu), mas seguramente seriam os moluscos bi e uni valves, ( como a mapamba, as quitetas, os cones e as ostras de rocha) e os caranguejos ( como ainda hoje são uma delícia) os elementos proteicos da base da alimentação e naturalmente as plantas comestíveis e os frutos.
Relacionados com esses vestígios estão, por certo os grupos humanos de Homo Erectus Rodhesiensis ( infelizmente não temos ainda vestígios ósseos deste período), conhecedores do fogo e das armas de arremesso que foram responsáveis por uma série de utensílios rudes, que vão dos seixos talhados uni e bi facialmente, às grandes lascas de quartzito talhadas com a forma de machado e os mais elaborados bifaces (os mais cotas conheciam da história do antigo 3º ano do Liceu como “coup de poing”’s) feitos de quartzo e quartzito que hoje estão no Museu da Faculdade de Ciências de Luanda e no mais recente Museu Nacional de Arqueologia em Benguela.
A corrente fria de Benguela continuava, como hoje, a trazer à costa os mamíferos conhecidos ( baleias, cachalotes, orcas e golfinhos) até onde hoje são os morros da costa, onde a praia, na altura, se encontrava ( 120 a 80 acima). Este tipo de instrumentos foram encontrados desde as Palmeirinhas a Sul de Luanda, até à Baía das Pipas no Namibe. E no Nordeste de Angola desde Cassange ao Dundo.
A corrente fria de Benguela continuava, como hoje, a trazer à costa os mamíferos conhecidos ( baleias, cachalotes, orcas e golfinhos) até onde hoje são os morros da costa, onde a praia, na altura, se encontrava ( 120 a 80 acima). Este tipo de instrumentos foram encontrados desde as Palmeirinhas a Sul de Luanda, até à Baía das Pipas no Namibe. E no Nordeste de Angola desde Cassange ao Dundo.
Quando isso acontecia, juntavam-se os grupos para as esquartejar e depois secar as suas carnes. ( na estação da Baía Farta, junto à mulola do Dungo, foi recentemente posta à luz do dia, por uma equipa do Museu Nacional de Arqueologia de Benguela, um esqueleto de uma baleia que foi “amanhada” por esses caçadores).
Mais ou menos entre 300.000 anos antes de nós, enquanto que na Europa os Gelos cobriam uma grande parte do Norte e centro e nas terras altas do Sul se formaram os glaciares, o mar inicia a sua lenta descida de nível dos mais ou menos 100 a 80m para o nível actual.
Mais tarde, por volta dos 15.000 anos, depois de vários ciclos de seca e de chuva, as areias terão coberto grande parte do solo, ficando a zona mais desértica, formando dunas e por essa altura, poderão ter chegado aos pântanos da baixa do Cavaco, os nossos patrícios mais ágeis e astutos parentes dos homenzinhos castanho-amarelado que nós chamávamos de mucancalas, hotentotes ou khoisan, deixando-nos os restos das suas oficinas de armas entre o Dombe Grande ( Tchitandalucúa) e a fazenda da Madame Berman ( e do José Maria Burgueira Calças). Assim andaram uns milhares de anos enquanto o Cavaco e os restantes rios e ribeiros sazonais lá iam arrancando mais terra das margens e despejando-a em direcção à kalunga. Poderão ter sido estes os anos mais felizes dos habitantes da bacia benguelense. Desta mesma época poderão estes sido companheiros de outros homens pequenos, mais fortes que os primeiros, os Mkuísses.
Cerca de 1300 anos da nossa era, ou talvez antes, começaram as grandes macas. Sucederam-se grupos tribais compostos por uns homens mais altos que os Mucuissis (hoje provavelmente extintos) de pele negra dizendo-se filhos de Suco, fazendo potes de barro, armados de janvites, lanças com lâmina de ferro e flechas com pontas de ferro e de quartzo. Provaram da água do Cavaco e do Coringe e gostaram … ( nessa altura corriam todo o ano). O massango e a massambala já era consumido no formato de pirão, mexido com os insubstituíveis lohícos, e no formato de cerveja ou melhor blunga ou quissângua, fermentada nas cabaças.
Chegam a Benguela os Mdombes do planalto da Ganda e Cubal, provavelmente, organizados em sobados, que antes instalados nas a bacias do Coporolo, e do Catumbela, no planalto, desceram até costa. È provável que seja aqui que surge o nome de Ombaka ou MBaka primeiro chefe que conduziu e instalou a sua gente para o vales do Catumbela, Cavaco e Coporolo.
Estamos no final do séc. XIV e sobretudo no Séc. XV, Os MDombes foram dali expulsos por povos mais organizados (e sobretudo maqueiros) mais agricultores do que pastores, mas sobretudo guerreiros, que terão atravessado o Catumbela avançando para Sul até chegarem a Quilengues ( antiga Caconda-a-velha) empurrando os desgraçados dos mdombes para as terras do Baixo Coporolo e Catumbela. Estou a falar dos actuais Muganda e MuHanha, construtores dos grandes povoados fortificados do Hondio (Ganda) e dos penedos-ilha da Quitavava (Pedreira para os altocatumbelenses) e da Pumbala (Pedra do Elefante).
Portanto: as vacas que o navegador português Diogo Cão encontrou, na Baía que tem o seu nome, ( hoje mais conhecida por Baía Azul, se calhar por este não cair bem aos donos das casas de praia) eram provavelmente dos Mdombes, pois estes eram os donos de gado com grandes cornos.
Enquanto os Mugandas se fixaram no planalto que vai da Ebanga, Luimbale até aos contrafortes da Chicuma, tribos de Ovimbundos, seus parentes, chegavam à costa entre o Egipto Praia e Porto Amboim (Benguela a Velha), no Século XV ou mesmo antes, fazendo deslocar os Madombes mais para Sul e estes fizeram o mesmo aos Mucuissis.
Para completar o quadro dos vizinhos benguelenses, faltam os Mucuissis e os Mussequeles ( também designados por mucancalas) da Equimina até Moçamedes, dizimados pelos pastores MuHumbis, pelos Kwanyamas e pelos esbeltos Muchirengues porque sendo caçadores, os primeiros não distinguiam os animais de Deus, dos animais dos segundos (nem fazia sentido). Os homens do puto do século XV ainda puderam ver os pequenos Mussequeles e os Mucuissis junto à costa quando chegaram para “plantar” os padrões.
A finalizar o quadro populacional só faltavam os Portugueses.
Primeiro na forma de lançados, ou tangos maus, vindos do puto por serem criminosos e ali deixados a cumprir pena e depois como soldados e bufarinheiros. A partir de 1550 os Brasileiros e os Holandeses no início do Século XVII estes últimos expulsos por volta de 1643. Em consequência destes, os cafusos e os mulatos de todos eles, que passaram a dominar populacionalmente e a assegurar as hordas de “pacaceiros” ,“funantes” e de comandar a chamada “guerra preta”, para caçar escravos.
Jorge Sá Pinto**